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MATRIZ

 

COMO TUDO COMEÇOU

 

O Povoado

 

            Para o exercício de atos civis e religiosos, as famílias eram obrigadas a atravessar a floresta por uma estreita trilha aberta a golpes de facão, até a Capela de Brotas numa distância de aproximadamente 50 quilômetros viajando em lombo de burro ou a pé. Cogitou-se, então, na criação de um povoado, onde pudesse se construir uma capela e um cemitério ao menos. Com esse propósito reuniram-se moradores da região na casa de Lúcio de Arruda Leme. Isso aconteceu em determinado dia do ano de 1853.

            Criou-se uma comissão composta por:

           

            Bento Manoel de Maraes Navarro,

            Tenente Manoel Joaquim Lopes,

            Capitão José Ribeiro de Camargo e

            Francisco Gomes Botão.

 

            E Após outra reunião, ficou certo que a Capela fosse construída à margem esquerda do rio Jaú e também a esquerda do córrego da Figueira e ainda que a área do povoado teria 40 alqueires. Então, em partes iguais, Francisco Gomes Botão e Tenente Manoel Joaquim Lopes  doaram as terras.

 

A Primeira Capela

 

           

            No dia 29 de março de 1852 o vigário de Brotas, Paulo Francisco de Paula Camargo, informava ao Presidente da Província que na sua freguesia encontrava-se em construção uma pequena capela no local denominado Jahu, à margem direita do Tietê.

            Foram abertas duas clareiras: uma para a capela (onde atualmente encontra-se a Matriz) e outra para o cemitério (onde encontra-se a escola Major Prado).

            O Dia da Assunção foi o escolhido para a celebração da primeira missa nessa capela, que era um simples rancho de pau-a-pique coberto com folhas de jeribá.

            Bento Navarro seguiu para Itu onde adquiriu a imagem de Nossa Senhora do Patrocínio e a fez transportar através de um banguê até o povoado.

            No dia 15 de agosto de 1853, o padre Francisco de Paula Camargo celebrou a missa com a participação da comunidade local e posteriormente benzeu o cemitério.

            O primeiro pároco de Jahu, padre Joaquim Feliciano de Amorim Sigar e o Capitão José Ribeiro de Camargo demarcaram as ruas do povoado, que rapidamente cresceu. No entanto, o Povoado de Nossa Senhora do Patrocínio do Jahu necessitava de uma melhor acomodação para o exercício da fé católica.

 

 

Capela Curada

 

            Logo após três anos depois de fundada, Jahu já aparecia no Mapa Eclesiástico da Diocese de São Paulo, pois em 3 de maio de 1856, a capela do povoado foi declarada curada.

 

Segunda Capela

 

 

            A construção de um novo templo foi cogitada para atender ao progresso do povoado e acolher a comunidade católica. Ergueu-se, então uma capela feita de madeira   para substituir a primeira que fora demolida. Essa capela foi construída pelos falecidos  Capitão José Ribeiro de Camargo e  Bento Navarro, sendo que este último além do serviço prestado  na construção da capela existente legou a terça parte de seus bens para a construção de uma nova igreja mais duradoura.

            Nessa época, Jahu contava com aproximadamente dois mil habitantes e foi elevado à categoria de distrito.

 

O Terceiro Prédio

 

            O legado de Bento Navarro tornou possível o início da construção de um templo de tijolos, mais amplo, moderno e imponente. Foi encarregada das obras a seguinte comissão:

           

            Tenente Lourenço de Almeida Prado,

            Tenente Antonio Manoel de Moraes Navarro,

            Antonio Batista de Carvalho,

            Antonio Benedito Campos de Arruda e

            Florêncio Francisco da Silva.

 

            A construção do terceiro templo iniciou-se em 1868. O material era transportado através de carros-de-boi e vinha de locais distantes, o que tornava trabalhoso e demorado o processo de construção. Materiais como cal, folhas de zinco e mármore, eram comprados em Rio Claro, que os encomendava na Província.

            Mesmo sendo significativa, a doação póstuma de Bento Navarro não era o suficiente para o término das obras, o que fez com que as autoridades municipais fizessem várias solicitações junto ao governo da província, que forneceu quatro contos de réis para a retomada das obras. No entanto, os recursos ainda mostravam-se insuficientes, o que levou a Câmara da Vila do Jahu incluir no Código de Posturas diversos tributos especiais sobre a produção agrícola do lugar. “Assim, por arroba de café, fumo, algodão e açúcar que se exportasse, pagar-se-ia o imposto de 40 réis; 200 réis por cabeça de gado e 100 réis por cabeça de porco.”

            Essa medida possibilitou a continuação das obras, que foram concluídas pelo padre José Firmino dos Santos no ano de 1888.

            Porém, aquele templo não mais satisfazia as necessidades e as exigências do progresso local.

 

Em destaque na foto, o terceiro prédio da Matriz, em alvenaria.

 

A Matriz Atual

(O quarto prédio)

  

            Os moradores resolveram edificar um templo que correspondesse à grandeza da fé e da cidade e com o progresso notório de Jahu que crescia nas finanças públicas e particulares, graças a expandida cultura cafeeira.

            Com a chegada dos imigrantes, principalmente os italianos, a população cresceu rapidamente.

            Na última década do século XlX a população da cidade de Jahu era de 25.000 habitantes, sendo  que 5.000 moravam na área urbana que já contava com mais de 10.000 prédios. Somando-se os moradores das áreas adjacentes, que seriam desmembradas mais tarde para formarem outras cidades, a população do então município de Jahu era de 32.738 habitantes.

            A partir  da chegada da ferrovia no ano de 1887, Jahu se tornara em um dos mais importantes pólos de produção de café do estado de São Paulo e do Brasil, o que lhe deu prestígio econômico, político e cultural (ao redor da Matriz podemos observar alguns dos casarões que foram construídos na época do café. Também conhecido como “ouro verde” o ciclo do café durou aproximadamente por 100 anos: de 1860 a 1960). Além de que o feito do aviador João Ribeiro de Barros, deu à cidade popularidade internacional (encontra-se na frente da Matriz o monumento ao glorioso filho de Jahu, comandante João Ribeiro de Barros que no ano de 1927 foi o primeiro aviador brasileiro a atravessar o Atlântico a bordo do hidroavião Jahú).

            A nova e pujante Igreja Matriz foi construída pelos imigrantes, que executavam seu ofício com cuidado e capricho.

            Para a construção do quarto templo, o bispo de São Paulo nomeou uma comissão que não se sabe qual a razão dissolvera-se. Entretanto, essa comissão elegeu uma outra antes de se dissipar:

           

            Tenente Antonio Manoel de Moraes Navarro,

            José Joaquim de Mello,

            Dr. Constantino Gonçalves Fraga,

            Dr. Deusdedit de Carvalho,

            Dr. João Costa,

            Capitão José Izidro de Toledo e

            Tenente-Coronel Edgard Ferraz do Amaral.

 

            Dessa nova comissão foram presidentes:

            Cônego Cizenando da Cruz Dias,

            Padre Eliziário Paulino Bueno e

            Padre Carlos Pereira Bicudo.

 

            Uma das primeiras medidas tomadas pela comissão foi trazer da capital um técnico capaz de elaborar um projeto de acordo com os anseios da população: o engenheiro João Lourenço Madein, recém chegado da Bélgica.

            Após os levantamentos topográficos, sobre um terreno em declive com quase dez mil metros quadrados projetou-se a planta do monumental prédio, que fora tratado pela imprensa da capital como catedral e basílica dadas sua importância, estilo e dimensões.

            A terça parte dianteira do terreno ficou reservada como área livre, assim como parte das laterais para melhor visualiza-se o conjunto do prédio.

            A planta da igreja foi elaborada em forma de cruz e sua pedra fundamental foi lançada em 24 de novembro de 1895. A inauguração do templo deu-se no dia 9 de junho de 1901, mesmo não estando completamente concluído.

            A nova Matriz, vazada no estilo gótico, de uma elegância e correção de formas admiráveis, viria a ser um dos  mais notáveis monumentos de São Paulo e do país.

            As obras prolongaram-se por vários anos, dada a sua complexidade em função do seu gigantismo.

            A terceira igreja ficou de pé, envolvida pelas paredes do enorme templo que se levantava à sua volta e ali eram oficializadas as missas e outros atos religiosos. Somente mais tarde ela seria demolida.

            No ano de 1898, a planta do majestoso templo foi exposta no saguão do jornal Correio Paulistano, da capital, chamando a atenção do público para tal empreendimento que estava sendo erguido no interior do estado. Em junho desse ano, o jornal registrou a matéria:

           

            “A nova Matriz de Jahu está construída em terreno de 10% de declive (...). Na concepção da planta observou-se a necessidade de ser aproveitado todo o terreno de modo a abranger a maior área possível. Assim, não dispondo o terreno de suficiente fundo, foi necessário aproveitá-lo em largura tanto quanto as proporções o permitissem. Deste fato originou-se a forma da cruz que foi dada à Igreja.

            As suas dimensões são de 40 metros de comprimento por 19 de largura na parte da cruz. Internamente está feita de maneira que todos os fiéis podem ver bem o altar-mor; deste modo a nave central e a cruz ficaram com uma largura de 12 metros, enquanto que as naves laterais ficaram apenas com 3 metros cada uma, servindo de corredores e para a colocação de confessionários.

            Sobre estas naves laterais existe a galeria que se liga com a galeria do órgão, a qual fica sobre a entrada principal.

            O teto será abobadado com tijolos ficando com uma altura livre, interna, de 18 metros.

            O pé-direito, da rua à cornija mor tem 19 metros e até a cumeeira 26 metros, sendo a altura total da torre de 60 metros*.

            Nesta obra foi adotado o estilo rigorosamente gótico, que permite a aplicação de formas singelas porém monumentais.

            Todas as peças como janelas, colunas etc., são de pedra artificial e fabricadas mesmo no Jahu.

            A grande janela sobre a entrada principal bem como as janelas laterais, de 6 metros de diâmetro, aos oitões da cruz estão assentadas com essa pedra e dão um aspecto grandioso ao edifício.

            A cobertura feita com telhado com telhado cor de ardósia, fabricadas também no próprio local.**

            A direção técnica desta obra monumental está confiada ao hábil engenheiro arquiteto Sr. João Lourenço Madein.

            Monta já em 250:000$000 a despesa efetuada, faltando pois 150:000$000 para completar os 400:000$000 enquanto orçada a construção deste sublime monumento cristão, o mais belo atestado de fé católica dos jauenses”.

 

            * Sem contar a cruz de 5,50 metros.

            ** O templo não estava concluído em 1898 quando o jornal Correio Paulistano publicou essa matéria. A descrição certamente foi baseada no projeto que lá se encontrava exposto, já que as telhas não foram fabricadas em Jahu, e sim importadas da França.

 

                                                                                     

O quarto e definitivo prédio da Igreja Matriz.

 

 “Egreja em construcção na cidade de Jahu”.

 

 

Inauguração da Igreja Matriz Nossa Senhora do Patrocínio de Jahu

 

            O ato de inauguração da nova Matriz foi comemorado no dia 9 de junho de 1901.

            No início de 1901 foi encaminhado o pedido de provisão para a benção do templo à Dom Antonio Cândido de Alvarenga, sendo a solicitação atendida aos 8 de maio desse ano.

            Autoridades civis e religiosas estavam presentes na inauguração e a população encontrava-se dentro e fora da igreja ocupando todos os espaços disponíveis.

            Na frente do templo, encontravam-se a Banda Carlos Gomes sob a regência do maestro Heitor Azzi e a Banda da fazenda Carlota, que alternavam-se na execução das marchas.

            O vigário, padre Carlos Pereira Bicudo recebia as felicitações  ao lado das autoridades, membros da comissão e do mestre de obras. 

 

Retomada das Obras

 

            Aos 17 de junho de 1904, o cônego Bento Monteiro do Amaral assumiu a paróquia de Jahu e nomeou uma nova comissão para para a continuação das obras, submetendo-a à avaliação de autoridades eclesiásticas da capital, sendo ela aprovada no dia 10 de setembro de 1904.

            Sob a presidência do pároco, os demais eram:

 

            João Pereira de Barros,

            Vicente de Almeida Prado Neto,

            Beraldo de Toledo Arruda,

            Joaquim Ferraz de Almeida Prado,

            Coronel Francisco de Paula Almeida Prado,

            Coronel Lourenço Avelino de Almeida Prado,

            Luciano Pacheco de Almeida Prado,

            Antonio Manoel Navarro,

            José Pereira Pinto de Toledo,

            Josué de Almeida Prado,

            Major Domingos Pereira de Carvalho,

            Joaquim Ferreira do Amaral,

            Francisco Pacheco de Almeida Prado,

            Antonio de Almeida Campos,

            Lourenço de Almeida Ferraz e

            Antonio de Paula Leite de Barros.

 

            O empreiteiro Torelo Denucci foi contratado por 55 contos de réis em 8 de abril de 1904 e em maio do ano seguinte os trabalhos estavam em andamento. 

 

A Cruz Iluminada

 

            “Concluiu-se rapidamente a torre e nela se instalou a grande cruz de ferro, iluminadas por lâmpadas elétricas uma novidade em todo o País tão recente era aquele sistema de iluminação em que Jahu se tornara uma das cidades pioneiras*. Também foram levadas a termo as capelas laterais.

            O mesmo se fez em relação ao adro. Foram também construídas as escadarias de acesso ao templo.”

           

            *Jahu foi a quarta cidade a ter o benefício da luz elétrica. Primeiro foi a cidade de Campos/RJ, Rio Claro/SP, Piracicaba/SP e finalmente Jaú. A inauguração da Companhia de Força e Luz do Jahú deu-se em 28/09/1901.

 

Nova Inauguração

 

            Em 15 de outubro de 1905 houve mais um motivo de orgulho para os jauenses: o prédio estava finalmente pronto. Houve festas, atos solenes e religiosos além de bandas e confraternização da população e das autoridades.

 

 

Órgão

 

            Foi encomendado na Alemanha por Joaquina de Almeida Prado e Coronel Lourenço Avelino, em respeito a vontade do Major Francisco de Paula Almeida Prado um grande órgão. Este, chegou em 1915 e era um dos maiores que tinha chegado à São Paulo e ao Brasil. A doação foi recebida festivamente pela cidade.

            Assim noticiou o Commercio do Jahu no dia 28 de setembro de 1915:

 

“O grande orgam

 

            Domingo foi inaugurado às 8 horas, o grande orgam offerecido à matriz, pela exma. Sra. D. Anna Joaquina de Almeida Prado e coronel Lourenço Avelino de Almeida Prado. A essa hora o revmo. Cônego Bento Monteiro do Amaral, digno e zelozo vigário da parochia, revestido de pluvial roxo e assistido de 4 eclesiasticos dirigiu-se ao coro e ahi foi solennemente benzido o orgam, servindo de paraninmplhos os generosos doadores. Logo em seguida o maestro Azzi tocou um hymno especialmente composto para este dia. (...)

            Depois de discorrer sobre as bellas artes e da influencia que sobre ellas exerceu e exerce a Egreja Catholica, referuiu-se à magestosa egreja do Jahu e num rasgo de eloqüência descreveu a sua architectura gothica, as suas ogivas, as suas arcarias, as cores vivas dos seus vitraes, os seus altares, os seus púlpitos etc. Faltando então, como complemneto, um grande orgam, que é no dizer do illustre sacerdote – a voz da Egreja.”

 

 

 

Sino

 

            O primeiro sino da Igreja Matriz pode ser visto atualmente no Museu Municipal. Ele nos acompanha há mais de um século e possui uma bela história escondida em sua liga de bronze.

 

 

Os Novos Sinos

 

            “Os novos sinos da Igreja Matriz Nossa Senhora do Patrocínio de Jahu bimbalharam festivamente pela primeira vez em homenagem a São Paulo Apóstolo e em comemoração à passagem do 4º Centenário da Cidade de São Paulo de Piratininga, em 2 de janeiro de 1954, um domingo magnífico de sol, como geralmente são os dias jauenses. Eles constituem um belo carrilhão de cinco unidades, a maior das quais com o peso de 3.200 quilos. O segundo sino pesa 1.000 quilos, um outro é de 650, outro tem o peso de 460 quilos e, finalmente, o último, que é mais leve, pesa 300 quilos. São ao todo 5.650 quilos, carga cuja instalação exigiu a reforma da parte interna da torre do templo, na qual foi preparada uma base de cimento armado que sustenta os cinco sinos. Estes são de fabricação nacional, executados em Porto Alegre pelos irmãos Belini, que se especializaram nesse gênero.”

(jornalista José Fernandes)

 

 

 

 

 

Primeira Missa Pontificial

 

            Depois de instalada a Diocese de São Carlos, inaugurou-se o grande altar-mor, quando esteve na cidade em sua primeira visita pastoral, o arcebispo Dom José Marcondes Homem de Mello. Veio da Bahia, também para essa finalidade o padre Dr. Antonio Menezes. Com a celebração da missa pontificial encerravam-se as solenidades.

 

As Pinturas Artísticas

 

Orestes Sercelli, Bruno Sercelli e Carlos De Servi

 

            Antes do ano de 1922 as paredes da Matriz eram limpas, sem decorações e sem painéis até que os famosos pincéis de  Bruno Sercelli e Carlos De Servi criaram a beleza ornamental e sacra da Matriz de Jahu.

            De Servi foi encarregado da pintura do arco e das composições artísticas aplicadas nas paredes do templo, através de painéis, que com o passar dos anos se deterioraram e foram substituídas mais tarde pelas obras do casal Makk.

            Já Sercelli, cuidou das decorações que ainda hoje nos encantam, mas que precisam ser restauradas.

            O projeto de decoração interna da Matriz é de Orestes Sercelli, nascido em Florença, onde estudou belas artes, fez aperfeiçoamentos em Bologna, Mântova, Veneza e Roma. Embora classificado em 1º lugar no concurso para a Cátedra de Decoração da Escola de Bellas Artes de Urbino não lhe foi atribuída a vaga. Viúvo e desolado deixa a Itália em 1896 e embarca para o Brasil. Depois de passar sete meses na Itália com a saúde abalada, volta para o Brasil e continua trabalhando com a colaboração de seu filho Bruno Sercelli até 1927.

            Bruno também nasceu em Florença onde estudou e permaneceu até 1915, quando foi participar da 1ª Guerra Mundial. No ano de 1920 viajou para o Brasil e em 1922, vem a São Paulo em companhia do pai.

            Carlos De Servi iniciou seus estudos no Régio Instituto de Bellas Artes na cidade de Lucca, onde nasceu. Morou em Buenos Aires e de lá foi para Londres onde venceu um concurso e ficou quatro anos aperfeiçoando-se em sua arte. Veio para o Brasil em 1896.

           

“A pintura da egreja matriz de Jahu

A conclusão do trabalho

 

            Está terminada e com grande exito, a pintura da egreja matriz desta cidade, de quem foram contratantes os competentes artistas srs. Orestes Sercelli e prof. Carlos De Servi, sendo que este tomou a empreitada de pintar a óleo vinte e um quadros ou painéis, mediante a quantia de 30:000$000 e o  primeiro, tomou a parte de decoração do tecto, paredes, columnas e altares, pela importância de 50:000$000.

            Na capella-mor, além de outros quadros com motivos religiosos foram pintados a “Annunciação de Nossa Senhora” e “Assunpção”. No arco cruzeiro foram pintados prophetas e abaixo, lateralmente, em tamanho natural, as figuras de São Pedro e São Paulo.

            No corpo da egreja, do lado da Epístola, foi pintado um belíssimo e grande quadro representando a apparição do Sagrado Coração de Jesus à beata Margarida Maria Alacoque da França; do lado opposto, isto é, o do Evangelho, foi pintado um outro grande quadro da Virgem de Lourdes, rodeada das filhas de Maria. Para este grandioso trabalho serviram de modelo várias senhoritas que fazem parte daquella congregação.

            Nos braços da cruz latina, de que a matriz tem configuração, aos lados dos grandes vitraes em rosácea foram pintados os quatro Evangelistas em busto, e abaixo, aos lados dos altares do Coração de Jesus e Coração de Maria, a três quartos do natural, os quatro doutores da Egreja: Santo Agostinho, Santo Ambrósio, Santo Athanásio e São Basílio e as Santas Terezinha do Menino Jesus, Santa Ignez, Santa Cecília e Santa Luzia.

            Tanto os quadros como a decoração estão primorosos, causando admiração a todas pessoas que visitam esta cidade e que, unisonamente, affirmam que no interior do Estado e mesmo na capital, com uma ou duas excepções, não há egreja tão bem decorada e pintada como a de Jahu.

            E caso os distinctos artistas Srs. Sercelli e prof. De Servi, que executaram com mão de mestre essas pinturas, tivessem necessidade de um attestado da sua competência, ahi está a matriz desta cidade para uma prova exuberante.”

(Do Commercio do Jahu de 12/04/23)

 

 

As paredes da Matriz sem decoração e sem painéis, antes de 1922, com os púlpitos junto às portas laterais.

 

 

Antes de 1922 a Matriz possuía galerias laterais como prolongamento da galeria do órgão.

 

                                     

 


Ao lado direito, o painel de Carlos de Servi "Aparição do Sagrado Coração de Jesus à beata Margarida Maria Alacoque", contornado pela decoração de Bruno Sercelli (foto de 1922).

 

 


  


 


Projeto de Orestes Sercelli para a decoração da Matriz.

 

 

 

O Casal Makk

 

Na década de 60, as pinturas já encontravam-se deterioradas e uma comissão decidiu então, com o aval do bispo, que os pintores sacros internacionais Américo e Eva Makk, que se encontravam concluindo um trabalho na Capela Episcopal de São Carlos seriam contratados para os painéis da Matriz de Jahu.

            As obras artísticas do casal foram iniciadas em outubro de 1961 e concluídas no ano seguinte.

            Durante o andamento dos trabalhos não faltaram problemas para resolver já que alguns fiéis mais conservadores estranharam o realismo anatômico das figuras. O rigor com que a anatomia feminina das imagens era tratada – quando Américo reproduzia a fisionomia e as linhas sinuosas do corpo da esposa Eva – causava incômodo a um grupo de fiéis.

            Américo é de origem húngara e fez seus estudos na Escola Superior de Belas Artes de Budapeste, conquistando uma bolsa de estudos para a Itália para onde se dirigiu aperfeiçoando-se no Vaticano em Arte Sacra.

            Eva, africana da Etiópia e filha de húngaros, seguiu para a França com uma bolsa de estudos. Atraída pela beleza histórica da Itália, transferiu-se para Roma onde conheceu o jovem Américo.

            O casal veio para o Brasil e se casaram em São Paulo.

 

 

Américo Makk pintando o painel acima da entrada da capela do Santíssimo Sacramento.


 


 


 


                       


 


 

A Reforma Externa dos Anos 70

 

            No início da década de 70 a Matriz já mostrava sinais dos tempos. O revestimento externo das paredes começava a desprender-se, causando risco a quem transitava por ali. Formou-se então uma comissão e deu-se início a um movimento para a recuperação dessa parte do prédio. Essa comissão chegou a conclusão de que o revestimento externo seria completamente substituído por massa e quartzo triturado.

            Após a reforma o templo parecia um bloco de granito esculpido, entretanto a surpresa foi que ao receberem tratamento, muitas aplicações florais e emblemas religiosos que até então não eram visíveis, apareciam aos olhos das pessoas que passavam pela praça.

 

  

A foto de 1972 mostra os andaimes para a reforma externa.

 

Nossa Senhora do Patrocínio

 

            Patrocínio vem do latim “patrociniu” e significa: amparo, auxílio, proteção.

            A devoção a Nossa Senhora do Patrocínio foi introduzida no Brasil pelos portugueses, ao longo de vários séculos. Por isso, a Virgem é representada de diferentes formas em cada época. As imagens mais comuns mostram a Mãe de Deus em pé com  o Menino Jesus nos braços, segurando na mão direita um cetro, símbolo de seu poder diante de Deus e dos homens. Já em outras, ela aparece sentada em um trono como Rainha do Universo, ou então, sem o Deus Menino, apontando o cetro para o globo terrestre para representar a sua soberania. Gravuras do século XVlll mostram a Virgem de pé, sobre as nuvens, tendo a mão direita encostada ao peito e o braço esquerdo estendido para baixo com a mão segurando o cetro apontado para a Terra.

            Estudo iconográficos apontam semelhanças entre Nossa Senhora do Patrocínio e Nossa Senhora do Amparo, mudando apenas os nomes dos títulos.

 

Nossa Senhora do Patrocínio em Jahu

           

            Uma vez concluída a Capela,  Bento Manoel de Moraes Navarro disse que havia anos que fizera um voto a Nossa Senhora do Patrocínio de Itú, para livrar seu filho Antônio, perseguido por haver participado como Tenente e ao lado do Padre Diogo Feijó, da revolta liberalista de Sorocaba, em 1842. Decretada porém a anistia geral dos rebeldes paulistas e também mineiros, por motivos do casamento de Dom Pedro II com dona Teresa Cristina, ele pode ir visitar o filho. Então, Bento Navarro segue para Itu e manda talhar uma imagem de Nossa Senhora do Patrocínio e a fez transportar através de um banguê (em braços de escravos) até o povoado.

            Essa imagem de belíssimo aspecto, esculpida em cedro vermelho com olho de vidro e conservados até hoje as cores originais, mede um metro mais ou menos de altura e pesa ao todo 60 quilos. É o único documento-monumento testemunho da fundação da nossa cidade.

            Ao que parece em 1915 um vigário que não tendo a justa compreensão do valor histórico que representava para Jahu essa imagem, substituiu-a no altar-mor da nossa Matriz por outra mais moderna e que lhe parecia mais bonita, relegando aquela para um quarto de despejos na Matriz. Dali ela foi levada pelos fiéis para a Igreja de Santo Antonio. Por volta de 1950, o prefeito Osório Neves manda então retira-la da Igreja e traze-la para colocá-la no saguão da Prefeitura Municipal.

            Mais tarde a imagem deixou a Prefeitura e foi levada para o Museu Municipal, dali voltou para Igreja Matriz onde se encontra até hoje.

 


A imagem que Bento Navarro mandou vir de Itu, na época em que ficou no saguão da Prefeitura.

 

 


Imagem que em 1915 ficou no lugar da anterior. Atualmente encontra-se no centro catequético Monsenhor Serra.

           

Bibliografia

 

TOSCANO, José Raphael. 100 Anos de Arte e Fé. Jahu, 2001.

www.historiadejahu.blogspot.com (acessado em 08/07/08).